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Mulheres debatem militarização e genocídio da população negra na 4ª Ação Internacional no Rio de Janeiro

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Com o lema “Mulheres em marcha pela desmilitarização dos nossos corpos, vidas e territórios”, teve inicio, na manhã de ontem (29), a 4ª Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheres na cidade do Rio de Janeiro. Com a participação de militantes paulistas, fluminenses e paranaenses, o encontro discute os processos de militarização pelos quais as cidades e a vida das mulheres têm passado. A partir de processos de formação política feminista, troca de experiências e ocupações dos espaços públicos, as mulheres presentes buscam evidenciar suas resistências e apresentar alternativas para o enfrentamento dos territórios militarizados.

A mesa de abertura, intitulada “Mulheres e desmilitarização: uma luta feminista”, contou com a presença de militantes de diversas organizações e movimentos sociais que construíram a Ação junto com a Marcha. As militantes falaram da necessidade de as mulheres serem as protagonistas das resistências nestes territórios militarizados, e apresentaram suas alternativas feministas. “Somos uma minoria representativa nos espaços de tomada de poder e decisão. Querem se ver livre da gente, mas não vão conseguir. Estamos cada vez mais organizadas para ocupar estes espaços”, afirma Solange, moradora da comunidade de Heliópolis, em São Paulo. Ela ressaltou ainda a lógica das cidades voltada às demandas do mercado e o uso das forças do Estado para a repressão e a criminalização dos movimentos sociais.

O tema da militarização é caro para o Rio de Janeiro, que tem sido uma das capitais mais afetadas pelo processo de mercantilização e gentrificação das cidades. Em São Paulo, a realidade não tem sido diferente. Há poucas semanas, uma chacina no município de Osasco vitimou 19 pessoas. Conscientes de que não há desmilitarização sem feminismo, o processo de construção da 4ª Ação Internacional contou com a participação de diversas organizações e movimentos sociais. Coletivamente, as militantes buscaram evidenciar o papel central das mulheres nas resistências e a construção de uma perspectiva feminista sobre o tema da desmilitarização. O diálogo direto com as mulheres que estão nos territórios militarizados proporcionou experiências como a participação no festival #OcupaVilaAutódromo e a presença das moradoras no encontro. Moradora da Vila Autódromo há 25 anos, Maria da Penha reafirmou o destaque que as mulheres devem ter na luta. Para ela, as mulheres são a força do país, da moradia e da vida.
Raquel Barros, do Fórum Social de Manguinhos, ressaltou a dificuldade de questionar a violência em um território militarizado e fortemente violento. Moradora do Complexo de Manguinhos, ela denuncia o genocídio da população negra. “Estão matando nosso corpo, estão matando o corpo negro. Estão matando as mulheres negras. Para mim, a UPP é a ‘unidade de porrada em preto’. A pauta da desmilitarização nos ajuda a refletir como o Estado pensa o corpo preto feminino. O que estamos vivendo é uma transformação muito grande que tem afetado, sobretudo, as mulheres”, afirma a militante.
Outro tema tratado na mesa foi a relação da militarização com a sexualidade das mulheres. 29 de agosto é dia da Visibilidade Lésbica, criado em 2005, a partir do SENALE (Seminário Nacional de Lésbicas) com o objetivo de incentivar a valorização das lésbicas e bissexuais. Letícia Vieira, militante da MMM no Rio, retomou a importância da data e trouxe à tona a relação entre as violências lesbofóbicas e a militarização, através do poder masculino e heteronormativo, que às vezes se expressa de forma sutil e pouco perceptível, outras vezes de maneira extremamente violenta como o caso dos estupros corretivos que dezenas de mulheres relatam terem sofrido.

Para a Marcha Mundial das Mulheres, desmilitarizar não é só colocar fim às guerras e conflitos territoriais. É necessário construir uma cultura de paz, que entenda as mulheres como sujeitos ativos da sociedade. O fim da violência sexista deve ser parte deste processo. Além disso, é necessário erradicar as desigualdades sociais e promover a solidariedade construindo, sobretudo, a organização das mulheres para o enfrentamento do capitalismo patriarcal. É necessário que as mulheres se organizem para que se imponham no sentido contrário ao da lógica da militarização. “Pensar a liberdade de viver e construir o mundo a partir da perspectiva feminista”, propôs a militante Bernadete Monteiro, da coordenação nacional da MMM.

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