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Plenária nacional fecha o julho das pretas da Marcha Mundial das Mulheres

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No dia 31 de julho (sábado), 150 mulheres militantes da Marcha Mundial das Mulheres (MMM) de diversos estados do país se reuniram para dialogar sobre a luta feminista, antirracista e anticapitalista. A plenária nacional foi uma atividade interna da organização.

O encontro teve início lembrando companheiras históricas da Marcha e de movimentos sociais aliados que construíram a luta antirracista e feminista durante vidas inteiras. Helena Nogueira, Marisa Dandara, Cidona e tantas outras mulheres que acreditavam que era preciso mudar o mundo e a vida das mulheres em um só movimento. 

A luta para combater o racismo, o patriarcado e o capitalismo foi reafirmada por muitas mulheres durante a plenária. A partir de suas experiências concretas e diversas, as militantes da Marcha compreendem que as opressões que estruturam o sistema vigente não somente se imbricam, mas se constituem mutuamente. 

“O racismo é um instrumento da economia. Quando a gente fala de como o racismo se expressa, de quais são as estruturas da nossa sociedade, o racismo grita. Pela hierarquização, ao longo da história ele foi se afirmando como um modelo econômico, cultural, político e social”, afirmou Liliane, da Bahia. “Quando falamos do trabalho doméstico ou dos trabalhos pesados, a gente percebe qual é a cor das pessoas que o exercem. Não é sobre uma definição de corpos. É sobre uma estrutura social desigual e exploradora que segue sendo alimentada”, completou.

Mazé, da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag) e da coordenação da Marcha das Margaridas, reforçou que no Brasil a questão agrária está intrinsecamente ligada à questão racial e à história da colonização, e, por isso, a luta pelo direito à terra é uma luta que enfrenta a desigualdade racial no país. “Quando nós, mulheres do campo, pautamos a luta pela terra e pelo território, estamos pautando a questão racial, porque elas estão imbricadas desde a sua raiz com a luta pela reforma agrária e a luta mais ampla por direitos”, explicou.

Marta Almeida, da MMM de Pernambuco, destacou a importância da agenda antirracista dentro do movimento feminista. “Precisamos falar da pobreza, da miserabilidade, da perda das nossas casas, da falta d’água. Água é vida, gente. Nós precisamos ter uma agenda antirracista. Precisamos denunciar o que tem acontecido dentro das periferias”, disse ela. Elaine Monteiro, da MMM Rio de Janeiro, reforçou que esse é um compromisso da organização como um todo. “O debate antirracista deve ser de todas as mulheres, não apenas das mulheres negras, pois é responsabilidade das mulheres como um todo”, reivindicou.

Durante toda a atividade, as mulheres trouxeram para o debate a centralidade da pauta Fora Bolsonaro, visto que o atual governo tem aprofundado as desigualdades e violências no Brasil, sentenciando milhares de pessoas à fome e mesmo à morte. “Nem bala, nem fome, nem covid” é um mote das mulheres e do movimento negro contra a política de morte. 

Ao final da atividade, Bernadete Monteiro, de Minas Gerais e da Executiva da MMM, destacou que a plenária foi parte de um processo de reflexão e ação, não o fim dele. Ela defendeu que as militantes feministas precisam estar nos territórios, construindo uma agenda de luta pela superação do capitalismo patriarcal e racista. 

Julho das pretas

Durante todo o mês de julho, as mulheres da MMM realizaram atividades em diferentes estados do país para dialogar sobre a luta das mulheres negras. Rodas de conversa, debates, lives, ações de solidariedade e intervenções culturais estão entre as iniciativas. Alguns registros estão disponíveis nas redes sociais da Marcha. Uma das atividades foi continental, tendo a participação de mulheres militantes de vários países das Américas. Trechos de suas contribuições foram publicados no portal internacional Capire e a transmissão traduzida para o português pode ser acessada aqui.

Além disso, as militantes publicaram uma série de reflexões no blog, por ocasião do Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha (25 de julho), e da urgência do pensamento e da ação do feminismo anticapitalista, antipatriarcal e antirracista. 

 

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