Capa / Notícias / Justiça para Ana Alice

Justiça para Ana Alice

foto
Foto: ASPTA

Na madrugada de ontem, 18 de agosto, ocorreram as mobilizações para o julgamento de Leônio Barbosa de Arruda, acusado de estuprar e matar a jovem camponesa e militante Ana Alice, no dia 19 de setembro 2012.

O júri popular teve início por volta das 9h35 da manhã e finalizou por volta das 16h. O réu irá responder pelos crimes de estupro, homício qualificado e ocultação de cadáver, com pena de 34 anos e 4 meses em regime fechado.

Esta é mais uma vitória das mulheres lutadoras e fruto da nossa auto-organização em torno do Comitê de Solidariedade Ana Alice, que existe desde o brutal assassinato da jovem na região rural da cidade de Queimadas, local da morte de Isabela Pajuçara e Michelle Domingues mortas no estupro coletivo que ocorreu no mesmo ano.

O Comitê impulsionou a luta e o debate não só para esses dois casos de violência como para todos os outros, e articulou várias mulheres de diversas organizações no Pólo da Borborema. Nós da Marcha Mundial das Mulheres, que acompanhamos o caso desde o início através do Coletivo do Campo e da Cidade, comemoramos e afirmamos que só a luta e auto-organização das mulheres é capaz de mudar o mundo. Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!

—–

Entenda o contexto

Queimadas na Paraíba é uma cidade marcada pela brutal violência contra as mulheres. A barbárie dos últimos casos de Isabella, Michelle e Ana Alice, no entanto fez florescer a resistência e a solidariedade entre as mulheres da cidade, estado e do pais. Os laços criados são marcados pelo entendimento de que foram elas, mas poderia ter sido qualquer outra e que portanto se mexeu com uma, mexeu com todas. O comitê Ana Alice contribuiu para que os casos fossem tirados do âmbito individual e colocados na esfera pública evidenciando que a violência contra as mulheres é fruto dessa sociedade machista, misógina e racista, e portanto uma questão a ser combatida e enfrentada por todas/os.

Quase três anos após o seu desaparecimento e estupro seguido de morte, no município de Queimadas-PB, a família, o Polo da Borborema e um conjunto de entidades organizadas em torno do Comitê de Solidariedade Ana Alice seguiram mobilizados aguardando o julgamento do caso, marcado para o dia 18 de agosto de 2015, no auditório da Câmara Municipal de Vereadores de Queimadas.

Nesse dia, em frente ao local do julgamento, foi realizada uma vigília com 50 mulheres e uma panfletagem no centro de Queimadas para sensibilizar a população e exigir o fim da impunidade dos crimes contra as mulheres.

O momento tem um significado especial, não só para a família de Ana Alice que encerrará um ciclo, mas para a luta construída desde a formação do Comitê, que passou a acompanhar esse e outros casos de violência contra mulher, além de assumir o protagonismo no processo de formação seja da militância do Polo da Borborema ou seja da sociedade sobre a desnaturalização da violência contra a mulher.

Nos últimos dias, jovens do Polo da Borborema, seguimentos religiosos da cidade, alunos e professores da rede pública de ensino, agricultores e agricultoras puderam refletir sobre o porquê Ana Alice saiu de casa para ir à escola e nunca mais voltou. “Eu quero que o Comitê continue existindo, pois o que aconteceu com Ana Alice não pode mais se repetir. No meu caso, sempre disse que estava ali para que o que aconteceu com minha filha não se repetisse com mais ninguém, eu como vítima, encontrei um grande apoio, não me senti mais sozinha, tivemos acesso ao Governador, aos secretários, tudo por causa da organização em torno do comitê”, avaliou Angineide Macêdo, mãe de Ana Alice.

Desde que o crime ocorreu, o Comitê também esteve articulado com as famílias de outras vítimas como as de Isabella Pajuçara e Michelle Domingues, as duas mulheres assassinadas durante o bárbaro estupro coletivo ocorrido também em Queimadas, em fevereiro de 2012. Ambos estiveram unidos durante momentos críticos como a fuga e posterior recaptura do assassino de Ana Alice, em abril de 2014, e o julgamento do mentor do caso do estupro coletivo seguido de morte das duas mulheres em setembro de 2014.

Com estas ações, o Comitê e a família de Ana Alice esperam que a repercussão do caso sirva de exemplo para inibir a atitude de outros agressores e ajudar a formar uma consciência de não violência contra a mulher.

Crédito da imagem: ASPTA.
Crédito da imagem: ASPTA.


O caso Ana Alice

No dia 19 de setembro de 2012, a adolescente Ana Alice de Macedo Valentim foi abordada quando chegava em casa depois da aula, estuprada e violentamente assassinada aos 16 anos de idade, tendo seu corpo enterrado em uma fazenda na zona rural do município de Caturité. Para a família, a adolescente permaneceu desaparecida por quase 50 dias, quando nas imediações de sua comunidade, uma nova mulher desapareceu. Ainda muito perturbada por tamanha violência sofrida, foi capaz de reconhecer seu algoz (e vizinho), Leônio Barbosa de Arruda, um vaqueiro à época aos 21 anos de idade.

Leônio acabou preso e confessou o crime contra sua vizinha e contra Ana Alice, confessou inclusive que neste último crime, não agiu sozinho, teve a ajuda de um comparsa, à época menor de idade. Contudo, elas não foram as únicas vítimas. Em 2011, ao sair de um baile de carnaval, ele havia feito sua primeira vítima. De posse de uma arma, obrigou que uma jovem de Boqueirão entrasse em seu carro e a estuprou. Dias mais tarde, após prestar depoimento do primeiro caso na delegacia desse município, tentou fazer nova vítima, uma adolescente de 14 anos que teve sorte diferente, quando um amigo a libertou da barbárie.

Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!

Sobre comunicadoras