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Rana Plaza está em todas partes!

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Nós, militantes da Marcha Mundial das Mulheres, unidas em solidariedade, estamos juntas para denunciar o capitalismo e o patriarcado que exploram e expropriam os corpos das mulheres e seu trabalho. No dia 24 de abril, relembramos o massacre de Rana Plaza, em Bangladesh, quando mais de 1000 mulheres ficaram feridas ou perderam suas vidas em um desabamento do edifício onde trabalhavam em condições desumanas em troca de um salário imoral.

Nos solidarizamos com as famílias das vítimas, elevamos nossas vozes bem alto para que sejam ouvidas e para denunciar que a cada dia, nos cinco continentes, as causas que produziram esse desastre se repetem. As mulheres sofrem essas consequencias nas plantações de chá, café e flores na África, nas zonas industriais na Ásia, nas empresas têxteis do leste Europeu, nas maquilas da América e em todas as partes do mundo.

Nós mulheres somos vítimas todos os dias da avareza do sistema capitalista, que coloca como objetivo a maximização dos lucros passando por cima do bem estar das pessoas, dos direitos humanos, do respeito a natureza, etc. Sofremos com a discriminação no mercado de trabalhao, com a insibilidade dos cuidados que provemos, com condições de trabalho desumanas e com muita sobrecarga. Sofremos muito mais com a precarização dos serviços públicos e dos serviços sociais, que desmantelam o Estado de bem estar e aumentam a carga de cuidados sob nossa responsabilidade.

Nós mulheres sofremos com a usurpação de nossas terras, que são o sustento de nossas famílias, pela cobiça de grandes empresas transnacionais, que especulam com terras e matérias primas, expoliando os bens comuns de nossos territórios.
Nós mulheres sofremos diariamente o controle sobre nossos corpos, por parte da sociedade, de grupos ultra-conservadores e fundamentalistas religiosos. Em nome da tradição, dos valores morais-religiosos e da cultura, a cada dia vemos ameaçados e desrespeitados nossos direitos sexuais e reprodutivos, nosso direito ao prazer sexual e a liberdade de decisão sobre nossos corpos, nossa saúde e nosso futuro.

Nós mulheres sofremos de forma mais aguda as consequências do aumento da violência, da instabilidade e dos conflitos. Notamos com extrema preocupação e indignação a forma como o estupro segue sendo usado como arma de guerra, como proliferam os casos de abusos e violência contra as mulheres e meninas: sequestros (como no caso de mais de 200 meninas raptadas na Nigéria por um grupo terrorista), tráfico sexual, escravid]ao e casamentos forçados. Como consequência, os deslocamentos massivos da população civil são feminizados, assim como a pobreza e o HIV-Aids.

Ao mesmo tempo, defendemos nosso direito à autonomia de nossos corpos e nossa sexualidade, assim como o direito a separar a sexualidade da maternidade, e nosso direito a decidir se queremos e quando queremos ter filhos. Reafirmamos a visão de que nossa sexualidade é socialmente construída e a nós mesmas como sujeitos que rechaçam ativamente a heteronormatividade e defendem o direito a viver nossa sexualidade libre de coerção, estereótipos e relações de poder.

Com nossas raízes no feminismo, defendemos a sustentabilidade da vida humana como princípio orientador de um novo paradigma que debe estar baseado em relações dinâmicas e harmônicas entre humanidade e natureza, assim como entre os seres humanos. Por isso, as mudanças reais nos modos de produção e reprodução são fundamentais, assim como nos padrões de consumo para conceber um conceito de trabalho novo e mais amplo. Esse novo conceito de trabalho deve reconhecer o trabalho das mulheres e manter um equilíbrio entre o trabalho produtivo e reprodutivo, onde este último seja também compartilhado com os homens e o Estado.

Por todos esses motivos, porque o mundo precisa da luta feminista, no 24 de abril unimos nossas vozes e esforços coletivos para criar uma onda de ações ao redor do mundo. Durante uma hora, começando ao meio dia, do Leste ao Oeste, da Oceania até as Américas, as militantes da Marcha Mundial das Mulheres organizam diferentes ações para conectar nossas lutas locais à luta global contra a dominação do capitalismo patriarcal.

Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!

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