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Rumo ao 3º Encontro Nacional: Transformar Maricá e o Rio de Janeiro com o feminismo popular anticapitalista!

Kelly Bernardos e Marília Closs – MMM Rio de Janeiro

No dia 7 de junho, a Marcha Mundial das Mulheres realizou uma batucada feminista em Maricá, no estado do Rio de Janeiro. Na praça Orlando de Barros Pimentel, no centro da cidade, estiveram presentes cerca de 30 mulheres das 18h às 20h. A atividade faz parte das preparações do estado do Rio de Janeiro para o 3º Encontro Nacional da MMM “Nalu Faria”.

Maricá é uma cidade que teve avanços significativos nos últimos anos. Transporte público gratuito e de qualidade, circulação de moeda social, execução de políticas públicas focalizadas e desenvolvimento de hortas agroecológicas são alguns dos exemplos entre várias outras políticas de um município que tem sido exemplo nacional e internacional de desenvolvimento e inclusão social. No entanto, é um município com diversas questões a serem resolvidas para garantir a vida digna, a segurança e a autonomia das mulheres.

Um dos elementos centrais é o combate à violência de gênero. De acordo com a 10ª Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher, lançada em 2024, o estado do Rio de Janeiro está entre os três com os maiores índices de violência contra a mulher, o que já mostra a gravidade da situação estadual. Maricá, em específico, esteve nos rankings mais altos de violência sexista do estado entre 2014 e 2019, quando se destacaram não apenas os altos dados de violência física, mas também de violência patrimonial e sexual. 

Para exemplificar: entre 2022 e 2023, o Grupamento Maria da Penha da Guarda Municipal de Maricá registrou 388 ocorrências e atendimento a mulheres vítimas de violência. Foram quase 400 casos em um ano! Sabe-se que estes são dados abaixo da realidade, já que a violência contra a mulher é amplamente subnotificada. Cabe notar que, em Maricá, as violências contra as mulheres são exercidas principalmente contra mulheres mais velhas. Por isso, na praça Orlando de Barros Pimentel, as mulheres da Marcha Mundial das Mulheres gritaram: se tem violência contra a mulher, a gente mete a colher!

Um outro elemento complexifica esta situação. De acordo com o Mapa da Mulher Maricaense, o 2º maior perfil de mulheres que utilizam os serviços do Centro de Atendimento à Mulher em Maricá são mulheres desempregadas – superado apenas pelas mulheres autônomas, que são as que mais usam os serviços do CEAM. A feminização da pobreza se combina com a violência contra a mulher: sem condições de autonomia financeira, as mulheres têm menos condições de denunciar, sair e se independizar de seus agressores. A divisão sexista do trabalho e a violência de gênero andam juntas e, por isso, devem também ser combatidas conjuntamente. 

Em Maricá ainda são poucas as mulheres nos espaços de poder. A atual Câmara municipal é composta integralmente sem nós: são 17 vereadores homens! A última vez que a cidade elegeu uma vereadora mulher foi no ano de 2000. Mesmo com mais mulheres votantes que homens, Maricá não tem hoje vereadoras e nunca teve uma prefeita mulher. A nível institucional, a cidade certamente teve avanços importantes, como a consolidação da Secretaria Municipal de Políticas de Defesa dos Direitos das Mulheres, o auxílio Recomeçar Sem Violência, que paga um salário mínimo a mulheres vítimas de violência na cidade, a campanha “Isso tem nome. E o nome disso é a violência contra a mulher”, além do próprio Grupamento Maria da Penha, que já tem resultados fundamentais. Mas é preciso muito mais. Precisamos de muito mais mulheres no poder. Precisamos de políticas que vão além do encarceramento: é necessário que as mulheres de fato vivam sem violência! Para avançar no nosso bem viver, reforçamos a importância de termos mulheres nos espaços de decisão, mas não qualquer mulher, precisamos de feministas comprometidas com nossa agenda. Queremos mudar, simultaneamente, a política e vida das mulheres!

No entanto, não é apenas nas instituições que se muda uma cidade. Precisamos, também, de mais feminismo popular, com força, disposição e garra para ocupar as ruas, as esquinas, as praças e as quebradas. Ao chegarmos na praça com nossas latas, a nossa estética e a nossa política, a Marcha Mundial das Mulheres deu um passo nesse caminho. Isso precisa ser multiplicado! 

Apesar dos avanços socioeconômicos e ao crescimento do rendimento municipal, promovidos por sucessivas gestões progressistas na Prefeitura, Maricá ainda não é uma cidade para as mulheres. Reivindicamos um feminismo popular — que seja anticapitalista e de luta nos espaços de poder e nas ruas. Queremos garantir que todas as políticas de inclusão social em curso no município sejam pensadas por e para as mulheres. É com esta política que a Marcha Mundial das Mulheres chega em Maricá: reivindicando a vida, a dignidade e o bem viver.

É pela vida das mulheres!

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